Do outro lado da rua, em frente ao Fórum, está o Conselho Tutelar, primeiro local que Alexandra esteve em 15 de maio de 2020 para relatar o desaparecimento do filho. Na época, contou que o menino tinha sumido durante a noite. Naquele mesmo dia, esteve na Delegacia de Polícia, que está na mesma via, a poucos metros de distância. A partir dali, a polícia iniciaria a apuração sobre o sumiço do menino. Dez dias depois, a própria mãe confessou ao delegado Ercílio Carletti, que coordenava a investigação, que tinha matado o menino. No fim da tarde de 25 de maio de 2020, Alexandra indicou à polícia onde estava o corpo de Rafael. O cadáver do menino estava depositado dentro de uma caixa de papelão, na garagem de uma casa vizinha. A moradia, de tijolos à vista, fica a poucos metros da moradia onde Rafael vivia com a mãe e o irmão mais velho. Na época, o casal de vizinhos que morava ali estava em viagem para Americana, no interior de São Paulo. Alexandra teria se aproveitado disso para entrar na garagem da casa e esconder o corpo do menino.
O casal, um homem de 65 anos e uma mulher de 58, bastante reservados, continua vivendo na moradia, mas tiveram dificuldade para conviver com a situação no início.
— Com a graça de Deus, ainda conseguimos viver aqui — diz a mulher, que logo após retornar para a casa teve dificuldades para dormir.
Sobre o julgamento, os dois afirmam que não pretendem acompanhar a sessão.
— Não estávamos aqui na época, não sabemos como foi. Não pretendemos acompanhar — diz a mulher, que integra a Congregação Cristã no Brasil.
Entre os vizinhos de Alexandra e dos familiares dela, há certo receio em comentar o caso, devido à proximidade gerada por um município de população reduzida. A mãe dela, Isailde Batista, que será uma das testemunhas a falar no júri, ainda vive na frente de onde residia a filha — atualmente há outros moradores na casa alugada. Quando percebeu a chegada da reportagem, neste domingo, Isailde preferiu fechar o portão e se trancar dentro de casa. Das últimas vezes em que falou sobre o caso, a avó disse não acreditar que a filha tenha assassinado Rafael e sustentou que ela sempre foi uma boa mãe. Em sua última versão, Alexandra negou ter matado o filho e é isso que a defesa dela deve sustentar durante o julgamento.
Mesmo na comunidade, aqueles que quiserem acompanhar o julgamento deverão fazer isso por meio da internet, já que desta vez o acesso à sessão será restrito. Em março do ano passado, quando o júri foi cancelado após a defesa deixar o plenário, os interessados poderiam acessar o local. Daquela vez, os momentos que geraram maior movimentação foram a chegada e a saída de Alexandra do clube onde deveria ter sido realizado o julgamento. Os moradores se aglomeraram e gritaram em frente ao prédio, acompanhando a escolta da Superintendência dos Serviços Penitenciários.
Alexandra deverá chegar ao Fórum no início da manhã, já que o júri está agendado para iniciar às 9h. Além da entrada principal, há um acesso lateral, que poderá ser usado para escoltar a presa, que está detida no Presídio Estadual Femininino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Durante o júri, ela será mantida em um casa prisional da região, de onde será deslocada diariamente até o Fórum de Planalto. A expectativa é de o que julgamento dure de três a quatro dias. Por fim, serão os sete jurados da comunidade que decidirão se ela é ou não culpada pelo crime.
Diferente da área central de Planalto, onde não se percebe mobilizações que remetam ao caso, o cenário é diferente no cemitério municipal. Ali, chama a atenção o túmulo do garoto, que está coberto de homenagens. Fotografias e mensagens de afeto, deixados ali pela comunidade, recordam de um menino tímido, que passou a ser chamado pela cidade de "anjo de óculos azuis". Fonte: GauchaZH
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